Não sei se este é o lugar certo para estar, mas sinto que é da natureza da palavra querer ser compartilhada... por isso, venho aqui descantar versos, romper partituras e promover silêncios em claves de fá...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Vagabunda

Sou uma princesa vagabunda
o único sapato que cabe no meu pé
é o grão de areia da minha terra
lugar
onde a chuva não chove
só chora na terra.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mim Comigo


Estou triste comigo.... Já não sei se comigo é uma boa palavra (independente da classificação gramatical) para se referir a mim... Quem é o mim do meu comigo? Tinha sede de água, de sonho, de nuvens doces pairando no céu... da terra q se move em baixo da água, sede do ar que passeia em volta das asas de um pássaro..... Asas.... Asas.... Não as tenho, mas preciso! Não para voar, mas para esconder! Na selva acadêmica em que vivemos, o lugar mais cômodo para estar é debaixo das asas do urubu. Os poetas é q tentam voar.... Asas cortadas... Eles não tem voz na fala! Estão a todo momento pisando em ovos com um salto quinze de vidro! Loucos, loucos, loucos..... Sempre com essa mania insana de mudar o mundo.... Sempre com esse jeito leso de suportar o nada, sempre com esse olhar trocado pra ver o avesso das coisas...... Viva os analfabetos, os iletrados, os abestalhados, os lesos....... Entrever o mundo como nos aconselha o poeta do nada, dói na vista, na alma, no corpo...... Perguntem aos poetas o que é estar aqui.... Eles lhe dirão da angustia de dilacerar o poema, de classificá-lo como bom ou ruim, das transfusões sanguíneas que se faz de um poema para o outro, do eu fugido, do assassinato da assinatura...... A todos os dias, os poetas deste lugar bebem um copo de cólera, se embebedam dessa substância para suportar e encarar a mudez!   A mudez do olho, a mudez do ventre, a mudez do sonho, a mudez do eu. Quando meu silêncio gritar, uma criança vai nascer no ventre, sair do seu lugar, não mais será preciso!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Serei poeta

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Quando
Aprender a escrever
Silêncios no
Verso

Imitando

Um pássaro
Que desenha
Assobios no vento

 Sendo

Uma lesma
Que descontói o caminho
para inventar sua casa

..............................

Poemas para ver/ouvir a cor

Ressuscita
É preciso sacrificar a as palavras de sangue
Que nascem ao morrer de um orvalho
E dá inicio a uma rua





Há um fruto morto na pedra




É necessário resgatar a palavra cor-de-vida-verde

Que foi brutalmente violentada

Silenciada






Retirar a minhoca do concreto é preciso

Desenhar no vento a cor da melodia de um pássaro

Que voa... Revoa... Vive... Revive...






Vamos cercar o mato pra conservar a poesia

E ver a vida... Viver

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Fome


Um prato
CHEIO
De poesia

Penso, logo firo!


Pensei em escrever alguma coisa... Vi que minhas costas não eram largas o suficiente para isso... E aí despensei. Tinha pensado em escrever um conto sobre uma mulher... Sobre uma mulher da rua... Sobre uma mulher da rua que estava grávida... Sobre uma mulher da rua que estava grávida e tinha como amiga uma formiga! Pensei em um nome para ela... Mas logo lembrei que eu tinha pensado nela como moradora de rua e sendo assim ela não teria abrigo! Só sombra... Não-nome!
Essa mulher teria a sua volta muitas moscas... Que a perturbariam de início, mas logo depois ela se acostumaria... Pensei que ela poderia morrer no parto e deixar para a criança uma barata dentro de uma caixa de fósforos como herança. Pensei que essa mesma mulher que estava grávida e morreria no parto teria engravidado acidentalmente de um cara que ela nunca amou nem nunca sonhou conhecer... E esse cara também não teria braços... Nada de mãos suadas... Nada de carinhos... Nada de nada...
Porque eu penso essas coisas???? Eu não sei... Queria não pensar nisso, queria pensar em algo mais bonito... Foi quando conversei com uma das moscas que perturbavam aquela mulher... A mosca me falou que ela era uma regente... Que já tinha decorado todo o repertório do musical que ela inventara para organizar o zunir das moscas... O movimento de suas mãos não era para afastar as moscas... Era só para orientar moscas.... A barata disse que decidiu espontaneamente morar na caixa de fósforo da mulher... Por consideração, por sensibilidade, por respeito aquele cheiro que também era dela....
A amiga formiga da mendiga só chorava...
E meu pensamento (para minha sorte) suicidou!

Kianda


“Quero perder-me na densidade poética da nuvem”
(Ondjaki, Dentro de mim faz sul)


 Nasci sem um fio de cabelo. Nem unzinho pra contar estórias... Sim, fios de cabelos contam histórias... Hoje tenho cabelos penteados por ventos, aveludados de cânticos noturnos... *Luâ fika ku mi más um kusinha Dexâ-m lambuxa na bo, Limia nha korpu ku káima. Não sou metade, o mar me faz inteira. Não quero caldas, basta-me descamar versos. Sou o último ser da criação, talvez por isso o mais polido, o mais hibrido, o mais intenso, o mais... O mais... O mais. Minha cor é renda... Fui bordada em fios cravo canela, delicadeza das mãos resulta em renda, ingenuidade disfarçada resulta em mim. Dançar é onda... e mais que isso... Ondar é dança... E ao som do Kizomba meu corpo tonteia, cambaleante em braços versados fiados rendados com fios de mel... As missangas são arranjos, melismas de meu canto. Se te enganas com a docilidade de meu timbre, te convido a passear em fel... fel de leite, leite em fel... Para embalar a escrita de destinos mofados. Eu canto contos e descanto versos para encostar no caminho. Sou a kinada, kivaga, kifinge, kivive, kiquer, kié (?)... Vivendo em beiras, nunca se sabe onde dará as ruelas e dentro de mim faz labirinto. Certo dia perguntei-me porque atrai-me tons graves... Talvez porque sou uma clave de fá! Porque nasci nas águas de um rio chamado Março, que só vagueia ao som do antigamente [...].

*Trecho da música Lua, da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade.