Não sei se este é o lugar certo para estar, mas sinto que é da natureza da palavra querer ser compartilhada... por isso, venho aqui descantar versos, romper partituras e promover silêncios em claves de fá...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Kianda


“Quero perder-me na densidade poética da nuvem”
(Ondjaki, Dentro de mim faz sul)


 Nasci sem um fio de cabelo. Nem unzinho pra contar estórias... Sim, fios de cabelos contam histórias... Hoje tenho cabelos penteados por ventos, aveludados de cânticos noturnos... *Luâ fika ku mi más um kusinha Dexâ-m lambuxa na bo, Limia nha korpu ku káima. Não sou metade, o mar me faz inteira. Não quero caldas, basta-me descamar versos. Sou o último ser da criação, talvez por isso o mais polido, o mais hibrido, o mais intenso, o mais... O mais... O mais. Minha cor é renda... Fui bordada em fios cravo canela, delicadeza das mãos resulta em renda, ingenuidade disfarçada resulta em mim. Dançar é onda... e mais que isso... Ondar é dança... E ao som do Kizomba meu corpo tonteia, cambaleante em braços versados fiados rendados com fios de mel... As missangas são arranjos, melismas de meu canto. Se te enganas com a docilidade de meu timbre, te convido a passear em fel... fel de leite, leite em fel... Para embalar a escrita de destinos mofados. Eu canto contos e descanto versos para encostar no caminho. Sou a kinada, kivaga, kifinge, kivive, kiquer, kié (?)... Vivendo em beiras, nunca se sabe onde dará as ruelas e dentro de mim faz labirinto. Certo dia perguntei-me porque atrai-me tons graves... Talvez porque sou uma clave de fá! Porque nasci nas águas de um rio chamado Março, que só vagueia ao som do antigamente [...].

*Trecho da música Lua, da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade.

2 comentários:

  1. Ah, Ondjaki! *Suspiros* Hahaha, te imitei agora, né? Bme-vinda ao mundo dos blogueiros. A passagem é só de ida...
    Boa viagem! =)
    Beijos

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  2. *supiros*
    Nao imaginva que meu encanto febriu por Ondjaki era tão visível...
    :)

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